Blog Meu Vinho

22/11/2023
A evidência mais antiga de vinho nas Américas?
Cacos de cerâmica de uma ilha porto-riquenha desenham uma imagem mais clara do vinho durante os primeiros estágios da colonização europeia
Há quanto tempo o Hemisfério Ocidental tem vinho? Como descobrimos em 2020, essa não foi uma pergunta fácil de responder. Mas uma nova pesquisa de uma equipe do Reino Unido está ajudando a esclarecer as coisas. Seu artigo, publicado na Archaeological and Anthropological Sciences em maio de 2023, indica que havia vinho de uva no Caribe durante os primeiros estágios da colonização europeia.

“Nos propusemos simplesmente iluminar um aspecto mal compreendido da história da culinária”, explicou a Dra. Lisa Briggs, da Cranfield University, uma das coautoras do artigo. “Como as duas tradições tão diferentes de alimentos e bebidas encontradas nas comunidades indígenas do Caribe e nos marítimos europeus mudaram, se adaptaram ou convergiram durante o período de contato inicial?” Para tanto, a equipe analisou fragmentos de cerâmica centenários – 26 indígenas, 14 europeus – da Ilha de Mona, em Porto Rico. (Hoje desabitada, a pequena ilha era um refúgio de piratas no século XVII.)

Com base em testes anteriores, os testes moleculares revelaram algumas possibilidades sobre o cardápio local: as pessoas na Isla de Mona podem ter assado peixe com uma técnica semelhante à barbacoa; podem ter sido grandes produtores de mandioca; e alguém, em algum lugar daquela ilha, estava bebendo vinho. “Depois que os primeiros assentamentos europeus passaram fome como resultado da incapacidade de se adaptar às práticas culinárias locais, os colonos adotaram os costumes locais”, aponta Briggs. “Mas uma coisa em que eles se apegaram foi o vinho.”

Olhando para fragmentos de uma jarra de azeitona espanhola do século 16 (um tipo de recipiente usado para conter mais do que apenas azeitonas, veja bem), os pesquisadores encontraram resíduos com uma proporção de ácido tartárico e málico que indicava a presença de vinho. Isso pode tornar os fragmentos a evidência mais antiga conhecida de vinho nas Américas. Os pesquisadores também encontraram sinais de compostos terpenos (diterpenoides) provavelmente derivados de pinheiros, que os europeus costumavam usar como selante antimicrobiano para vasos de vinho (os terpenos ainda são usados na Grécia para fazer retsina).

“Muitas vezes pensamos em marinheiros bebendo bebidas destiladas como rum; aqui vemos as primeiras evidências de que o vinho foi transportado a bordo de alguns dos primeiros navios que viajaram da Europa”, observou Briggs. “Isso sugere que beber vinho era um aspecto importante da cultura europeia e foi uma das primeiras tradições europeias a ser trazida para as Américas.”

Ainda não sabemos que tipo de vinho havia na jarra (também conhecido como Amostra nº 175). Briggs e a equipe dizem que o vinho provavelmente foi feito na Europa usando uvas Vitis vinifera. Adicionando um pouco mais de contexto, o frasco foi encontrado no que pode ter sido um local religioso. “Se [este era] o vinho da comunhão necessário para os direitos religiosos católicos, talvez manter um suprimento de vinho fosse uma prioridade em viagens longas”, afirma Briggs. Ainda assim, como acontece com muitos mistérios no mundo da arqueologia do vinho, teremos que esperar por mais respostas. De acordo com Briggs, “Muitos outros frascos de azeitona foram encontrados na ilha, que estão esperando para serem analisados”.

Fonte: Wine Spectator
 

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