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02/04/2025
Criolla Chica recebeu status de qualidade na Argentina
Esta variedade versátil, porém subestimada, recebeu status de qualidade do órgão regulador da Argentina para produção de vinho
A importação europeia Listán Prieto, conhecida na Argentina como Criolla Chica, se juntou ao elenco de uvas tintas de qualidade aprovadas pelo Instituto Nacional de Vitivinicultura (INV) do país em legislação publicada em 2024.

Ela se junta a congêneres mais conhecidos, como Malbec, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir e Bonarda, na lista de variedades aprovadas para a produção e rotulagem de vinho tinto de qualidade, e pode incluir a classificação de Identificação Geográfica (IG) ou Denominação de Origem (DOC). Todas as uvas Criolla estavam até agora na lista de variedades rosés aprovadas, impedindo os produtores argentinos de produzir um estilo mais leve de tinto, rotulado como tal. A resolução abre as portas para as vinícolas argentinas apresentarem e exportarem tintos mais frescos e de tonalidade mais clara, pelos quais há uma demanda crescente.

Renascimento oportuno

Um membro da família Criolla que inclui várias variedades – Cereza, Criolla Grande, Pedro Gimenéz e vários Moscatéis e Torrontés – comumente cultivadas na América do Sul – a uva de casca clara e baga grande é cultivada na Argentina desde o século XVII. Da Quebrada de Humahuaca, a 2.600 metros acima do nível do mar, às províncias de Catamarca, San Juan e Mendoza, a capacidade da variedade de expressar terroir é apreciada pelos produtores de vinho. A uva também atrai uma nova geração de consumidores que buscam vinhos frescos e leves.

A Criolla Chica (também conhecida como País no Chile e Mission na Califórnia) tem, junto com outras variedades da família criolla, experimentado um renascimento emocionante na última década. O projeto Cara Sur, fundado em 2011 pelas equipes de marido e mulher Sebastián Zuccardi e Marcela Manini e Pancho Bugallo e Nuria Año Gargiulo, desempenhou um papel central e pioneiro. "Depois de visitar vinhedos antigos ao redor do mundo, entendemos a diversidade que eles trazem para a viticultura", relatou Bugallo. Os dois casais começaram a resgatar vinhas antigas no Vale Calingasta em 2011; em 2014, a Cara Sur engarrafou sua primeira Criolla Chica de vinhas centenárias em Barreal, e hoje produz 50.000 garrafas.

Em 2016, Matías Michelini da Passionate Wines embarcou na mesma busca após desenterrar um vinhedo de treliça de 80 anos no Vale Uco. De acordo com Michelini, preservar a cultura e a tradição é fundamental. "Resgatar vinhas tão antigas que são como árvores mantém nossa herança e honra nossos antepassados", destaca ele. “Nesses vinhos você pode realmente saborear a sabedoria da passagem do tempo.” Michelini também fez parceria com o enólogo Pancho Lavaque para salvar lotes históricos no Vale Calchaquíes, e com a Bodega El Bayeh em Quebrada de Humahuaca.

Há cerca de uma década, a filial de Mendoza do Instituto Nacional de Tecnologia Agrícola (INTA) começou a recuperar variedades Criolla. Avançando para este ano e para uma colaboração entre produtores, o INV e o INTA que ajudou a impulsionar a nova legislação. “Temos testado o uso de Criolla Chica para a produção de vinho tranquilo e espumante, usando diferentes clones”, explica Jorge Prieto, pesquisador do INTA. “Vários meses atrás, alguns produtores pediram ao INV seus registros e começaram a reunir mais dados, até que a resolução para incorporar Criolla Chica em IG e DOC foi concedida.”

O entusiasmo por Criolla Chica cresceu lentamente, mas seguramente, um tanto prejudicado pelos desafios que ela representa para os produtores de vinho acostumados a produzir tintos encorpados e inseguros sobre como lidar com altos taninos na ausência de cor. Para outros, é isso que torna a variedade tão atraente. “Sua estrutura naturalmente alta de taninos a torna muito interessante”, diz Zuccardi. “As uvas têm apenas um rubor vermelho, mas seus taninos lhes dão textura.”

Busca contínua

A Criolla Chica está sendo defendida por um número crescente de produtores — tanto independentes quanto nomes bem estabelecidos.

A Cara Sur e a Michelini começaram a plantar novas videiras, com outras seguindo o exemplo. "É importante preservar informações genéticas, e esses vinhedos são bancos de germoplasma vivo incríveis [recursos genéticos preservados para melhoramento, pesquisa e/ou conservação]", acrescenta Bugallo.

Em Paraje Altamira (Vale do Uco, Mendoza), Juanfa Suárez, da Rocamadre, produz Criolla Chica envelhecida por seis meses em carvalho francês usado desde 2019. Seu objetivo é explorar ainda mais o potencial total da variedade. "Nesta primavera, plantarei Criolla Chica em solos de granito e calcário em Altamira. Quero levá-la a alturas complexas e desconhecidas", relata ele.

No Vale do Uco, a Bodega Lagarde, a Riccitelli Wines e a Cadus colhem a variedade em, respectivamente, Tupungato, Los Chacayes e Vista Flores; Matías Morcos em San Martín e Catena Zapata em Rivadavia lideram o movimento no leste de Mendoza, enquanto, mais ao sul, a Bodega Chacho trabalha com frutas de San Rafael.

Ao norte do país, Tacuil e El Esteco produzem Criolla Chica no Vale Calchaquíes IG. Enquanto isso, a Bodega El Bayeh (com consultoria de Matías Michelini) e a Bodega Kindgard obtêm uvas de videiras de propriedade de famílias locais em Quebrada de Humahuaca.

A nova legislação foi publicada e está disponível no boletim oficial do governo argentino.

Fonte: Decanter
 

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