Blog Meu Vinho

04/02/2009
EUA: Após "lei seca" de Bush, vinhos regressam à Casa Branca com Obama
Menos de três semanas após a sua tomada de posse, uma das mudanças que Barack Obama, já introduziu na Casa Branca pode ser saboreada.

Ao contrário de George W. Bush, que não bebia qualquer espécie de bebida alcoólica (depois de uma juventude em que abusou do álcool e mesmo de drogas), Barack Obama indicou já pelas suas ações que vê no vinho, em particular, e nas bebidas alcoólicas, em geral, uma oportunidade para trocar opiniões em boa companhia num ambiente descontraído.

Primeiro foi o jantar em casa do conhecido colunista conservador George Will, em que foi servido "bom vinho".

Depois, já na semana passada, foi um "cocktail" ao fim do dia na Casa Branca para congressistas de ambos os partidos, numa tentativa conquistar apoio bipartidário para o seu plano de estimulo econômico, um indício talvez de que, devido à crise, Obama é de opinião que todos precisam de se acalmar com uma bebida.

No Domingo, na festa na Casa Branca para se assistir à final do campeonato de futebol americano, a receita foi repetida.

Um porta-voz disse que, além de diversos "snacks" como pizza e sandes, havia um bar para os políticos de ambos os partidos convidados para festa. Os cínicos disseram que foi uma tentativa de Obama demonstrar a validade do ditado latino "in vino veritas" (com o vinho se descobre a verdade).

Estes acontecimentos mereceram o olhar dos analistas mais atentos aos pormenores da vida na Casa Branca, mas não espantam os que conhecem Barack Obama.

Apreciador de bons vinhos e bons restaurantes, Barack Obama possui na cave da sua casa, em Chicago, uma garrafeira de 1.000 garrafas de vinho, segundo a revista norte-americana Wine Enthusiast, que colocou uma foto do presidente na capa da sua última edição.

Obama foi, além disso, fundador em Chicago de um "clube de vinhos" e é conhecido entre os amigos por gostar de experimentar todo o tipo de cozinha e vinhos embora - dizem os amigos - a sua preferência vá para a cozinha italiana.

Ironicamente, foi o dono de um restaurante italiano em Chicago que deu a conhecer a Obama um espumante sul-africano (o Graham Beck) que ele escolheu para a festa privada na Casa Branca para familiares e amigos na noite da tomada de posse e após o último baile de gala.

Uma revista local especializada divulgou já alguns dos vinhos provados por Obama num restaurante italiano em Chicago, entre os quais se contam vinhos franceses e norte-americanos.

Irônico é também o facto de a garrafeira de Obama em Chicago ter mais vinhos do que a cave da Casa Branca.

Daniel Shanks, o escanção da Casa Branca, disse à agência Bloomberg que existem atualmente na residência presidencial "entre 500 e 600 garrafas de vinho", algo que o crítico de vinhos Mike Steinberger disse ser "patético e mais um exemplo de como se permitiu a deterioração das infra-estruturas do país".

Steinberger, num artigo na revista Slate, recordou que um dos fundadores dos Estados Unidos e terceiro presidente do país, Thomas Jefferson, juntou 20.000 garrafas de vinho na Casa Branca durante a sua presidência num espaço na cave por baixo da Sala Oval, que "é hoje usado para outras coisas".

O enólogo disse que Obama deveria de imediato "estabelecer o objetivo de ter uma garrafeira na Casa Branca de 3.000 garrafas no final do seu primeiro mandato", o que seria "uma pequena mas significativa contribuição para a nossa fraca economia".

Com o regresso do vinho e dos "cocktails" à Casa Branca, Obama está também a fazer regressar à presidência uma tradição histórica que data da fundação do país.

Consta dos livros de história que, depois da elaboração da Constituição norte-americana, em 1787, os 55 políticos que participaram no processo organizaram uma festa em que, para além de vinho francês (a França foi aliada dos independentistas norte-americanos), foram também consumidas 22 garrafas de vinho do Porto e 54 garrafas de vinho da Madeira.

É pouco provável, no entanto, que o vinho português regresse para já aos menus e festas oficiais da Casa Branca, depois de Lyndon Johnson ter introduzido o princípio de que só vinhos norte-americanos podem ser servidos em jantares ou festas oficiais.

Richard Nixon deu, no entanto, ordens ao pessoal da Casa Branca para servir aos hóspedes vinho norte-americano, mas que ele só bebia Chateau Margaux, e Steinberger opinou que Obama deveria "de imediato" levantar essa proibição.

É preciso notar também que, ao contrário do presidente Richard Nixon, que era conhecido por beber demasiado, (o jornalista John Dickerson que cobriu a Casa Branca na altura descreveu-o como "um bêbado"), Obama é mais conhecido entre os seus amigos por ser "viciado no ginásio e no basquetebol", não havendo, portanto, qualquer perigo de excessos.

Mas certo é que Obama parece acreditar que o vinho em moderação é uma abertura para o diálogo e troca de ideias, mesmo que corra o risco de a sua imagem se impor como a de um elitista desligado dos interesses das classes trabalhadoras norte-americanas.

Contudo, no futuro, o que os historiadores irão analisar é se a presidência de Obama, tal como o vinho, azedou, ou melhorou com o passar dos anos.
 

Receba ofertas exclusivas: Siga nossas Redes Sociais: