|  | Estudo ouviu 346 empresas  em diversas regiões produtoras do Rio Grande do Sul e chamou atenção para  outros aspectos como a resistência a financiamentos e baixa profissionalização Falta de mão de obra  qualificada, carência de profissionalização nos modelos de gestão e resistência  a financiamentos são alguns dos aspectos de maior destaque do Censo da  Indústria Vinícola do Rio Grande do Sul, elaborado por demanda do Instituto  Brasileiro do Vinho (Ibravin) pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). O  estudo colheu impressões de 346 empresas produtoras de vinhos, espumantes e  sucos em diversas regiões do Rio Grande do Sul, entre setembro de 2013 e maio  de 2014. Este total representa 79% das empresas com contexto válido para  pesquisa. No Rio Grande do Sul existem 545 vinícolas ativas registradas no  Cadastro Vinícola. 
 O estudo mostra que as  empresas apresentam idade média de 26,4 anos, sendo fundadas entre 1880 e 2013,  sendo que percebe-se um maior número de negócios abertos nos últimos 10 anos.  Grande parte delas (85,8%) tem até nove funcionários. Em relação à receita  bruta anual, o valor é inferior a R$ 360 mil em 61% das empresas e entre R$ 361  mil e R$ 3,6 milhões em 24,9%. Ou seja: 85% são micro ou pequenas empresas. A  pesquisa aponta que 78% possuem vinhedos próprios, com média total do estado de  16,9 hectares por vinícola. Do total pesquisado, 89,6% das videiras estão  localizadas na Serra Gaúcha e 4,5%, na Campanha.
 "O objetivo era, em  primeiro lugar, entender melhor as empresas e ter mais informações para se comunicar  mais efetivamente com o setor. Há diferenças de resultados partindo do ponto de  vista do tamanho do negócio ou da produção, pois tem muitos grupos com  realidades distintas. Temos grupos que só trabalham com vinho de mesa a granel.  Outros, com vinhos finos engarrafados ou com suco. E tem grupos que fazem de  tudo. Precisamos compreender bem isso para desenvolvermos as ações”, explica o  diretor executivo do Ibravin, Carlos Paviani.
 
 Para exemplificar a fala do  diretor executivo, enquanto na Serra Gaúcha cada vinícola possui em média 8,7  hectares de vinhedos plantados (41,1% viníferas e 58,9% americanas), na  Campanha, a média é de 77,8 hectares por vinícola, sendo 100% de variedades  viníferas. Mesmo considerando as diferenças regionais, observa-se que mais de  60% das empresas pretende ampliar a produção de suco de uva integral e  espumantes tipo champanha e moscatel.
 
 “Grande parte das vinícolas  tem gestão familiar, mais simples. Não há uma profissionalização. Isso se  percebe inclusive nas suas ações de divulgação e processos internos. Em razão  disso, dependem muito do boca-a-boca para divulgar seus produtos. Grande parte  delas é dos anos 2000 pra cá. O Enoturismo é muito importante nesse segmento,  em especial para as pequenas, mas a atividade ainda está em seus primórdios”,  resume os dados o professor Fabiano Larentis, coordenador do curso de Comércio  Internacional do Campus Universitário da Região dos Vinhedos (Carvi) e docente  do programa de pós-graduação em Administração (PPGA), que coordenou a pesquisa  junto com Cíntia Paese Giacomello, diretora do Centro de Ciências Exatas, da  Natureza e da Tecnologia do Carvi.
 
 O levantamento teve ainda o  envolvimento do programa de pós-graduação em Administração da UCS, por meio das  professoras Ana Cristina Fachinelli e Simone Fonseca de Andrade.
 Confira os principais  resultados da pesquisa* Dificuldades na Área da  ProduçãoEntre os cinco principais  entraves mais citados na pesquisa, quatro dizem respeito à escassez de  profissionais qualificados. A principal dificuldade se refere à mão de obra  para colheita/safra, cuja média, em uma escala de 0 a 10, ficou na ordem de  7,07. Na sequência, aparecem a falta de mão de obra qualificada na área de  produção vinícola, para o desenvolvimento de novos produtos, o preços das uvas  e a rotatividade de pessoal.
 
 “Estamos em uma região que tem  grande oferta de empregos, e há bastante concorrência com setores como  metalmecânico, moveleiro, comércio e serviços, que acabam sendo mais atraentes  às vezes. A partir dos resultados da pesquisa, podemos pensar em ações de  aperfeiçoamento, talvez via Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino  Técnico e Emprego) ou outros meios”, avalia Paviani.
 
 Outro ponto que chama a  atenção, de acordo com Paviani, é o modelo de gestão adotado em diversas empresas.  Alguns vitivinicultores sequer conseguiram ser contatados pelos pesquisadores  da UCS para a aplicação do questionário. “Grande parte são empresas familiares,  que têm uma gestão muito simplificada. O setor requer cada vez mais  especificação e especialização. Muitas vezes, a mesma pessoa cuida do cultivo  das uvas, elabora o vinho, comercializa e administra o negócio”, ressalta  Paviani. Por exemplo, 86% das vinícolas não contam com equipe específica para  vendas, sendo os proprietários quem também acumulam este papel.
 Mercado Interno e  ExportaçõesO Rio Grande do Sul é o  principal destino dos produtos no mercado nacional: 73,6% das empresas têm o  estado gaúcho como foco, 13,1% comercializam para os demais estados da região  Sul (Santa Catarina e Paraná) e 24,2%, para a região Sudeste. “A partir disso,  vamos estudar se é mais válido focar as ações no Rio Grande do Sul, onde há  mais consumidores, ou em outros estados, para conquistar mais mercado”, afirma.
 
 Dentre os entrevistados, 9,2%  afirmaram possuir ações de exportação, com predomínio do vinho fino como foco  de trabalho. Nas vinícolas com ações no mercado externo, esse item representa  aproximadamente 35% de participação em 2013 sobre o volume total remetido ao  Exterior.
 
 O vinho de mesa exportado  apresenta 25%, em média, de participação, enquanto que espumante e suco de uva  representam 21% e 15%, respectivamente. Dos que não exportam, 30% afirmaram que  têm intenção de passar a exportar nos próximos cinco anos. “Poucos têm  interesse no mercado externo porque requer mais tempo e investimento”, afirma  Paviani.
 PreçoQuestionados sobre as faixas  de preço para o consumidor final no ponto de venda, tendo como parâmetro o Rio  Grande do Sul, 64% das vinícolas que produzem vinho de mesa indicaram atuar na  faixa até R$ 7 (garrafa de 750 ml). No vinho fino, as categorias até R$ 15  concentram 60,1% das empresas pesquisadas. Para espumantes, um terço das  vinícolas atua entre R$ 16 a R$ 30. Enquanto que, no suco de uva, 84% indicaram  até R$ 10 ao litro.
 FinanciamentoO estudo avaliou ainda o interesse das empresas em financiamento. Metade  afirmou que busca empréstimos, tendo como maior motivador a aquisição de  máquinas e equipamentos (70,2%). A principal razão alegada para não buscar  financiamento é a falta de necessidade (59,4%). Na sequência, observa-se a  falta de garantias bancárias (15,3%).
 
 “Alguns pensam em investir no  suco de uva e no espumante, o que é natural, já que são dois produtos que estão  em alta. Observa-se uma resistência em trabalhar com bancos, e aqui identificamos  um traço cultural da região, que diz que ‘se eu puder passar longe do banco,  melhor’ e que ‘é mais vantajoso fazer com capital próprio’”, reforça Paviani.
 EnoturismoQuestionados sobre ações de  enoturismo, 25% disseram possuir algum tipo de ação. A participação da receita  proveniente do enoturismo varia entre as vinícolas, mas apresentou média de  15%. Nesse sentido, observa-se a importância do enoturismo: o canal de distribuição  mais utilizado é a venda direta ao consumidor final (64% das vinícolas vendem  diretamente aos clientes que as visitam seja por retirada no varejo ou por  telefone e internet). Porém, a maior participação nas vendas se deve à venda  por atacado, que responde por 31,5% das vendas, em média.
 
 Entre as vinícolas que possuem  ações de enoturismo, a grande maioria, 79%, está inserida em algum roteiro  turístico, sendo o Vale dos Vinhedos o referencial mais citado. Dentre os que  não possuem ações ligadas aos enoturismo, aproximadamente 42% têm intenção de  desenvolvê-las nos próximos cinco anos. “O enoturismo é cada vez mais uma  atividade da qual temos de nos apropriar”, salienta Paviani.
 As principais formas de  comunicação são recomendações dos clientes, o popular boca-a-boca (69,5% dos  casos) e visitas aos clientes (51,8%). O site da empresa na internet foi citado  por 30,8% das empresas.
 
 A maioria das vinícolas  (55,7%) com ações de enoturismo recebeu, em 2013, até 500 visitantes, sendo  predominantemente famílias. Na maioria dos casos (65%), os visitantes ficam  sabendo a respeito da vinícola por recomendações de amigos ou familiares. A  internet foi citada por 48% das vinícolas.
 Participação setorialDos  entrevistados, 55% afirmaram participar de alguma entidade ou associação ligada  ao setor. Foram citadas 258 entidades, por 178 vinícolas, sendo que o Ibravin  foi o mais citado, por 38,8% dos casos. O Ibravin também foi o mais lembrado  (57,1%) quando a pergunta se referia a entidades que mais leva em conta, tendo  como referência de atuação o desenvolvimento de marketing, representatividade e  apoio ao setor. |  |