Blog Meu Vinho

04/04/2018
Os chineses amantes do vinho francês estão invadindo os vinhedos de Bordeaux
Não é mais só turismo, eles também estão comprando propriedades na região francesa
Um guia desbloqueia uma pesada porta de madeira e leva os visitantes a uma adega de vinho em um Castelo de Bordeaux. Ao longo da vasta rede de salas e corredores subterrâneos, milhares de garrafas envelhecem por décadas na escuridão.

Hoje, muitos dos turistas que visitam essa região vinícola francesa são chineses.

O casal aposentado Wang Jiawei e Cao Juanjuan (os dois na foto) estão visitando a Europa pela primeira vez. Eles estão viajando para Londres e Paris, mas dizem que Bordeaux também é imperdível.

"Nós gostamos de beber vinho", dizem eles. "E para nós chineses, Bordeaux é vinho. Todo mundo que gosta de vinho quer vir a Bordeaux para experimentar a longa história do vinho e para ver como é feito".

O consumo chinês de vinho aumentou dramaticamente nos últimos 10 anos. Isto está tendo um efeito profundo nas regiões vinícolas do mundo como Bordeaux. Mas alguns chineses estão interessados ​​em mais do que apenas fazer turismo na região.

Daniel Li é o gerente da propriedade de um industrial chinês que comprou dois castelos em Bordeaux há cinco anos. Nós o encontramos no enorme Chateau Bel Air, a cerca de 45 minutos de Bordeaux, num campo ondulado e coberto de videiras.

Li disse que seu chefe já estava importando vinho de Bordeaux e adorava bebê-lo. Então, ele quis saber exatamente como era feito.

Chateau Bel Air produz cerca de 230 mil garrafas de vinho todos os anos. De acordo com Li, eles mantiveram todos os trabalhadores franceses originais e continuam a fazer o vinho da mesma maneira. A única coisa que mudou, diz ela, é a estratégia de marketing e exportação, que agora está voltada para a China.

"A China é agora um grande foco e aumentamos as exportações para cerca de 70% da nossa produção", revela.

Li estima que o antigo proprietário francês exportava cerca de 20% de seu vinho para a China.

A empresária chinesa Lina Fan chegou na França há 14 anos, ficando depois de obter um diploma de gestão de negócios e vinhos.

Fan foi uma das primeiras agentes a ajudar um empresário chinês a comprar um castelo. Ela diz que tudo começou em 2007, quando a demanda pelo vinho tinto de Bordeaux na China disparou.

"Naquele momento, cada vez mais importadores chineses começaram a pensar: Por que não comprar um castelo em Bordeaux?”, conta Fan. "Então, os investidores começaram a me fazer perguntas: ‘Quanto custa um castelo e uma vinha em Bordeaux?’ E quando descobriam o valor, eles ficavam surpresos: ‘Ah, não é tão caro!’, eles me diziam."

Fan revela que cerca de 85% dos investidores chineses compraram castelos que custaram entre 3 e 6 milhões de dólares.

De acordo com ela, existem dois tipos de compradores chineses de castelos: o primeiro tipo gosta de beber vinho, é um importador e quer aprender como fazê-lo. O segundo é um milionário que procura aumentar seu status.

"Não se trata apenas de economia", acrescenta Fan. "Às vezes é apenas uma questão de imagem. A França, para o povo chinês, significa uma vida de luxo, um estilo de vida".

Os chineses são os maiores investidores de Bordeaux, possuindo 140 castelos. Investidor de longo prazo, a Bélgica caiu para o segundo lugar com apenas 40. Mas, com 10.000 castelos de vinho espalhados por toda a região, 140 continua a ser uma gota no balde.

Alguns residentes de Bordeaux ficaram desconfortáveis ​​com o fluxo repentino e enorme do investimento chinês. Anne Largeteau está fechando uma loja de vinhos em um castelo do século 16 que possui um novo proprietário chinês. Várias gerações da família Largeteau trabalharam no negócio do vinho em Bordeaux.

"A questão é que você sabe que eles têm o dinheiro", diz Largeteau. "E infelizmente nós (franceses) não temos nenhum. Mas eles investem, eles fazem a restauração dos castelos, etc., então, é uma coisa boa. Mas ainda assim, é lamentável, porque as propriedades não são mais francesas. Nós gostaríamos de manter nossos tesouros patrimoniais".

O jornalista Laurence Le Maire relata que escreveu seu livro "Vinho, Vermelho e China" depois de ter ficado assustado com o tom da imprensa local em relação aos compradores chineses.

"Foi sempre tão negativo, criando estereótipos e falando sobre o ‘perigo amarelo’”, conta Le Maire. "A reputação de Bordeaux foi feita por estrangeiros ao longo dos tempos - os ingleses, os holandeses - e os chineses não são diferentes".

Christophe Chateau, chefe de comunicações do Bordeaux Wine Board, concorda que a região sempre deu boas-vindas aos investidores estrangeiros e deve muito do seu sucesso a eles. Mas ele ressalta que as pessoas foram pegas de surpresa pela ascensão dos chineses. No ano 2000, Bordeaux exportou menos de 400 mil garrafas para o pequeno mercado chinês. Hoje, a China é o mercado número um de exportação de Bordeaux com 80 milhões de garrafas por ano.

"Eles (os chineses) estão investindo muito e estão desenvolvendo o turismo", afirma Chateau. "Eles estão criando uma riqueza para a região de Bordeaux. Então, isso está ajudando Bordeaux, não destruindo Bordeaux".

Jean Pierre Leydet, 60 anos, não tem tanta certeza. Ele mora em uma pequena casa em meio a fileiras de vinhas, carregadas de cachos de uvas escuras nesta época do ano. Leydet tem trabalhado nas vinhas toda a sua vida. Ele diz que os vinhos de Bordeaux são de qualidade superior, mas agora outros vinhos estão competindo com eles - os vinhos sul-africanos são especialmente bons.

"Meu grande medo é que os chineses usem o que aprendem aqui e cultivem milhões de acres de vinhas na China", fala Leydet.

Então, ele acrescenta: o mercado francês será inundado com vinho chinês - tão bom quanto uma garrafa de Bordeaux.

Fonte: National Public Radio
 

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