Blog Meu Vinho

23/02/2022
Uma taça de vinho pode levar ao aumento da consciência?
Uma equipe de pesquisadores entrevistou frequentadores de bares que vendem vinho e explorou como uma taça de vinho tinto pode aumentar a consciência e o prazer
Todos nós sabemos que uma taça de vinho pode afetar nosso humor, seja nos relaxando no final do dia, ou aumentando nosso prazer enquanto bebemos com os amigos. Mas ela pode melhorar a consciência do corpo, espaço e tempo? Pesquisadores da Universidade de Lisboa, em Portugal, realizaram um estudo que descobriu que os bebedores de vinho em um ambiente do tipo bar experimentaram um aumento da consciência, ou uma maior percepção do momento presente.

O estudo, publicado na Plos One, inquiriu 102 participantes de todo o mundo sobre a sua experiência após beberem duas taças de vinho no Corkscrew Wine Bar, localizado numa zona de Lisboa frequentada por turistas. O pesquisador principal, Dr. Rui Miguel Costa, recrutou participantes que visitavam o bar e os convidou a participar de uma investigação sobre como o consumo moderado de vinho tinto causa mudanças na consciência.

Dos 102 participantes, pouco mais da metade eram mulheres e a média de idade era de 35 anos. Aos participantes foram oferecidos dois copos de Quinta da Lapa Reserva Syrah 2018, da região do Tejo. Costa diz que permitiu que os sommeliers da Corkscrew selecionassem o vinho para o experimento. Ele acrescenta que escolheram o vinho por causa de suas características sedosas e encorpadas, "apreciadas pela maioria das pessoas".

Antes de beber, os participantes preencheram um questionário descrevendo a consciência relativa de si mesmos e de seus arredores. Depois de consumir sua segunda taça de vinho, os participantes preencheram o mesmo questionário.

Como os pesquisadores escrevem em seu estudo, "Estados alterados de consciência referem-se a desvios substanciais da consciência desperta habitual. Entre as necessidades humanas comuns, há a busca por estados alterados de consciência agradáveis, isto é, uma transcendência alegre temporária do estado comum da mente. O consumo equilibrado de vinho pode ser um meio para tais alegrias, profundamente enraizado em muitas culturas humanas desde tempos imemoriais."

Costa e seus colegas analisaram os resultados do questionário usando a Escala de Avaliação dos Estados Alterados de Consciência, que visa medir desvios substanciais da consciência desperta habitual, incluindo aumento da excitação ou prazer, intensidade da consciência do corpo, do tempo e da perspicácia. Os participantes não podiam beber outras bebidas, além de água, e não havia limite de tempo para a rapidez ou lentidão com que bebiam. Também não foi permitido o uso de smartphones ou relógios, devido à interferência na percepção do tempo.

Para manter um ambiente natural, os participantes foram separados em três condições com base na forma como chegaram ao bar: beber sozinho, beber em pares ou beber em um grupo de três a seis pessoas. Não houve grupo de controle neste experimento - participantes que não beberam álcool - porque, segundo Costa, isso teria interferido no projeto naturalista por ser inviável ou altamente artificial.

"Inicialmente, consideramos ter um grupo de controle bebendo uma bebida não alcoólica, mas não poderíamos encontrar facilmente alguém disposto a estar nessa condição", relata Costa. “Percebemos que estar no bar de vinhos tomando uma bebida não alcoólica seria uma experiência incômoda para a maioria das pessoas. Assim, é improvável que o ambiente do bar em si seja capaz de causar as agradáveis mudanças de consciência que observamos."

Os resultados mostraram que os participantes experimentaram melhora do humor e aumento da excitação, diminuição da consciência do tempo e aumento dos relatos de que o tempo passa mais devagar. Também não houve diferenças significativas entre os sexos ou tamanho do grupo.

Os pesquisadores descobriram que a idade se correlacionou diretamente com o aumento do prazer, o que significa que os participantes mais velhos relataram maiores aumentos de prazer ao beber vinho tinto, enquanto os participantes mais jovens relataram um maior fascínio pelo ambiente em que estavam bebendo. Esses resultados foram baseados nas pontuações do questionário que foram comparadas antes e depois do experimento.

Costa atribui parte desses resultados a certos mecanismos biológicos que o álcool induz. Por exemplo, o etanol, o tipo de álcool nas bebidas, é um sedativo que pode retardar sua percepção do tempo e também desencadeia pequenas liberações de dopamina que podem afetar o prazer e a excitação.

Embora este seja um dos primeiros estudos a explorar mudanças positivas na consciência após uma dose moderada de vinho tinto, Costa acredita que seus resultados precisam ser repetidos várias vezes e devem examinar possíveis fatores de confusão, como música ambiente e comida. Mas talvez a maior limitação seja o fato de não ter tido nenhum grupo de controle, que Costa espera resolver no futuro.

“Acreditamos que a apreciação do vinho tinto pode ser aumentada com o aprofundamento da compreensão de seus efeitos na mente”, defende Costa. “É improvável que a inclusão de uma condição de controle altere os resultados, mas nós a incluiremos em nosso próximo estudo”.

Fonte: Wine Spectator
 

Receba ofertas exclusivas: Siga nossas Redes Sociais: