Blog Meu Vinho

15/06/2022
Grupo de viticultores busca reconhecimento da UNESCO por vinha não enxertada
Um grupo de viticultores europeus liderados pelo produtor dissidente de Bordelais Loïc Pasquet uniu-se para defender as videiras não enxertadas e buscar o reconhecimento da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
O grupo Francs de Pied (Ungrafted Vines) consiste em um círculo crescente de viticultores que trabalham com vinhedos não enxertados plantados com variedades nativas.

A lista inclui o próprio presidente da Francs de Pied, Loïc Pasquet, o vice-presidente Egon Müller (Mosel), e o secretário Andrea Polidoro de Cupano (Montalcino) e Contrada Contro (Marche); bem como Gocha Chkhaidze da principal vinícola georgiana, Askaneli; Thibault Liger-Belair (Borgonha); Chartogne-Taillet (Champanhe); Feudi di San Gregorio (Campania); Vida Peter (Hungria); Joh. Jos. Prüm (Alemanha); Dominio de Es (Espanha); Artemis Karamolegos (Grécia); St. Jodern Kellerei (Suíça); e Filipa Pato (Portugal) entre outros.

"Inicialmente, pensamos em organizar encontros regulares para vinícolas que trabalham com videiras não enxertadas de variedades nativas, onde os vinicultores pudessem provar os vinhos uns dos outros e trocar ideias", explica Polidoro, que possuiu um projeto que envolve videiras de Malvasia Bianca di Candia não enxertadas preparadas de acordo com o sistema tradicional de alberata. “Realizamos a primeira reunião em janeiro de 2020, pouco antes da pandemia, onde tivemos pessoas da França, Espanha, Itália, Alemanha, Grécia e Suíça”, relata.

Em junho de 2021, o grupo Francs de Pied foi oficialmente formado no Principado de Mônaco, sob o patrocínio do príncipe Albert II. “Para alcançar o reconhecimento da UNESCO, precisamos ter muitas pessoas influentes a bordo”, disse Pasquet, explicando por que o grupo buscou apoio de figuras proeminentes como o próprio príncipe Albert II de Mônaco, o presidente da Geórgia Salomé Zourabichvili e o empresário italiano Pasquale Forte. “As vinhas não enxertadas representam um património único que é tão antigo como o vinho e temos que preservá-lo. Vinho não é apenas vinho, cada garrafa contém muita espiritualidade e cultura que faz parte da humanidade há 8.000 anos. É por isso que precisamos do reconhecimento da UNESCO”, argumenta.

O reconhecimento da UNESCO ajudaria a aumentar a conscientização dos bebedores de vinho sobre o valor histórico e cultural das videiras não enxertadas. Também evitaria que vinhedos não enxertados – alguns dos quais podem datar de tempos pré-filoxera – fossem desenraizados e incentivaria os produtores a plantar novos também.

“O empresário Pasquale Forte, empresário que faz vinho em Val D’Orcia, na Toscana, mas também tem laços com a Turquia porque tem uma empresa lá”, relata Polidoro. “Ele encontrou pelo menos 100 hectares de videiras que se acredita terem sido propagadas a partir das mesmas vinhas que os cristãos trouxeram para a Terra Santa quando foram perseguidos por Diocleciano. Estas vinhas são muitas vezes desenraizadas, muitas vezes simplesmente porque são consideradas não rentáveis. Se conseguirmos protegê-las pela UNESCO, não será mais possível arrancá-las e esse patrimônio da humanidade será preservado.”

Um comitê científico está atualmente trabalhando ao lado do Francs de Pied para construir um caso para a indicação da UNESCO. Pasquet acredita que o processo, que envolve o exame de uma série de “tradições vitivinícolas, todas com uma cultura específica que precisa ser preservada”, levará pelo menos alguns anos.

Enquanto isso, os viticultores também planejam desenvolver um programa de certificação para ajudar os bebedores a identificar vinhos feitos com frutas de videiras não enxertadas. “Nosso comitê científico ficará encarregado de certificar as garrafas, da mesma forma que a Demeter faz para os vinhos biodinâmicos, com um logotipo que ficará visível no rótulo”, conta Polidoro.

A preservação de videiras não enxertadas não visa apenas preservar as tradições vitícolas, Polidoro argumenta que isso representaria uma ferramenta eficaz também para combater as mudanças climáticas. “O porta-enxerto tem um grande impacto no ciclo de vida da videira, pois as videiras não enxertadas tendem a apresentar um ciclo mais regular. Desde a brotação até a floração, elas tendem a ser muito consistentes de ano para ano”, explica Polidoro. "O dia da colheita basicamente nunca muda porque a planta tem um metabolismo próprio que é menos influenciado pela variabilidade climática e, portanto, também tem uma maior adaptabilidade às mudanças climáticas."

Fonte: Decanter
 

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